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sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

A PINTURA E A FOTOGRAFIA

PEQUENO ENSAIO SOBRE A ARTE E A FOTOGRAFIA

O principal papel atribuído á pintura artística, era reproduzir em imagens mais ou menos reais, as vivências do quotidiano.
Com o aparecimento da fotografia, foi libertada desta função de reprodução fiel, e abriu espaço para que se começassem a percorrer caminhos até á mais mais pura abstracção.
Entretanto houve um período, com o desenvolvimento das revoluções sociais, e o coincidente aparecimento da fotografia, em que esta influenciou notoriamente a pintura artística, sobretudo na composição dos elementos e figuras que a integravam, com a chamada tendência realista.
São disso testemunha pinturas de grandes artistas, tais como os portugueses Columbano, Alfredo Keil e em França, Edgar Dégas, Claude Monet, Gustave Coubert, etc., etc.
Paradoxalmente, após esta longa caminhada da pintura, que vai do mais puro figurativo á total abstracção, novas formas e tendências modernas apareceram, influenciadas pelas fotografias, onde a pintura tem a pretensão de ir até mais longe do que esta, em termos de pormenor e composição.
Técnicas houve, que utilizando a projecção fotográfica davam a esta uma maior riqueza na textura, no relevo e acentuando pormenores que enriqueciam a própria fotografia.
Nas pessoas que hoje praticam exclusivamente a fotografia como uma proposta artística, a
"caça" ás imagens procura no pormenor, cristalizar ou manipular a realidade, narrar uma história, ou fazer da fotografia, uma forma dissidente de nostalgia.
Por outro lado e de uma maneira geral, a verdade de uma fotografia, depende de quem a observa, da sua cultura, da sua sensibilidade e até da sua crença.
Estamos programados para fundamentar a nossa existência em verdades, certezas e finalidades, quando no fundo a vida é uma permanente evolução e uma constante mudança.
Daí a fotografia constituir para nós uma atracção, embora a realidade da câmara, terá sempre o privilégio de ocultar mais do que aquilo que revela, ou pelo contrário, revelar mais do que aquilo que é “a verdade”, quando recorre por exemplo á utilização do
"photoshop" ou outra qualquer técnica semelhante.
As alterações digitais a que as fotografias são então sujeitas, podem não constituir uma falsificação dessa verdade, desde que o contexto em que ela se encontra inserida não pretenda falsificar a verdade ou o seu conceito sociopolítico.
Observar uma fotografia é como nos colocar como observadores, nos excluímos como personalidade e passamos ao papel de analistas implacáveis da realidade fotografada olhando para essa imagem, não num contexto de verdade e mentira, mas como um simulacro do real e do irreal.
A nossa cultura
voyerística , observa as imagens com imensos cuidados, no sentido de descortinar se a intenção do fotógrafo foi utilizar uma abordagem convencional ou questionar certas regras estéticas, com alegorias ou teatralidade, com ou sem ligação com a realidade.
A
linguagem da fotografia é silenciosa e só pode ser avaliada entre a objectividade relativa ou a ficção objectiva, podendo estas sobreporem-se ou confundirem-se.
Um pormenor que podemos descobrir numa fotografia ou um esclarecimento que ela permita, pode transformar esta, num veículo privilegiado de pedagogia política ou do conhecimento geral, enquanto meio de comunicação cultural.
Quanto ao seu conteúdo artístico, é o olhar do fotógrafo que pode transformar uma fotografia numa
obra de arte e não a sua utilização, por mais relacionada que esteja, ou não, com uma demonstração técnica, científica, ou simplesmente com a vida em geral.
“Fazer ver” a ciência, ou a vida é hoje um privilégio da fotografia e

nomeadamente do chamado foto-jornalismo .
Em ambos a arte, se pode confundir com a técnica.
E vem tudo isto a propósito de uma reflexão sobre um extraordinário “Power point”, que me chegou ao conhecimento, feito com a selecção das 127 melhores fotografias de 2009, escolhidas pela conceituada revista de fotografia”NATURE´S BEST PHOTOGRAPHY” e que publicamos no fim deste artigo.
Entre todas não saberemos o que mais admirar, se por patriotismo faccioso, preferirmos a imagem do Elevador da Bica e do celebérrimo poço da Quinta da Regaleira, em Sintra, onde se procedia a cerimónias rituais secretas dos maçons, ou as lágrimas de crocodilo do ex-presidente Bush, ou ainda dos contrastes a que a natureza humana se reveste, como é o caso da fotografia de um rosto abrutalhado de um eventual boxeur, segurando nas mãos com imensa gentileza, o frágil pé de um lindo malmequer branco.
Dos imensos momentos em que a própria natureza é protagonista, quer pelas cores e peculiares simetrias de que se reveste, quer pela violência dos seus elementos em fúria, quer através de vivências dos seus habitantes domésticos ou selvagens, ora ternurentos, e carinhosos ora ferozes e mesmo bestiais, numa demonstração das amplitudes que determinam a vida e a morte.
Imagens de paz e beleza como a de uma linda criança segurando um cravo vermelho, que nos recorda por um lado, os dias felizes e mobilizadores de Abril e por outro o contraste sinistro dos enormes e pesados uniformes que a rodeiam, em que o pensamento da guerra que lhe está subjacente, isolando e absorvendo instantaneamente o nosso imaginário.
Um tema padrão, é por um lado a insignificância do ser humano e por outro a sua indesmentível superioridade técnica e científica, raiando por vezes o genial e colocando em primeiro plano, a inteligência e sagacidade humana.
Õ talento dos fotógrafos que viram o seu trabalho distinguido nesta selecção, praticam um exercício estético, que nos confunde muitas vezes o real com o imaginário, embora na totalidade destes casos, os truques de tratamento das fotografias, esteja completamente fora de causa.
Culpados são os exageros da Natureza, por fazerem confundir o talento do instantâneo ou a paleta das suas cores, com realidades por vezes tão fugazes, que escapam ao natural olhar de quem não tem o talento desses artistas.

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