Quando estamos perante o descalabro da nossa economia, com a
tragédia a bater-nos à porta, depois da selvática comunicação do Primeiro-ministro,
seguida de um lamuriento e hipócrita paternal lamento, sobre as sua “comuns”
preocupações com o futuro dos seus filhos, não faz sentido aparentemente, não o
desancar.
A crueldade que vai provocar a sua acção, com o consequente
aumento da pobreza que já ronda limites insuportáveis.
O aumento do número de mortes por falta de assistência
médica ou incapacidade de comprar os medicamentos necessários.
O desemprego, agora reforçado à bruta com mais 40.0000
professores que se vêem impossibilitados de prover às suas necessidades básicas,
porque estão sem trabalho.
Os 50% de jovens licenciados, que para trabalhar tem de ir
para o estrangeiro.
O drama dos reformados, que já limitados na sua capacidade
de sobrevivência, vêem a morte a aproximar-se sem poderem defender-se do conto
do vigário que foi descontarem uma vida inteira de trabalho, para assegurar a
sua velhice e agora vêem essa expectativa gorada.
A necessidade de encher
o buraco criado pelos bancos quando especularam com papéis que não passavam
disso mesmo, pagando por eles somas exorbitantes que se veio a traduzir numa
burla dos capitalistas americanos “baptizada” de “Subprime”.
Quando a Europa que vai ter de pagar 4 triliões de euros aos
Estados Unidos, triliões de euros esses, retirados do sangue suor e lágrimas
dos trabalhadores europeus, para pagar o papel ( a que chamam dólares!!!) que são
necessário para pagamentos internacionais e que para os norte americanos basta
mandar a Reserva Federal imprimir em
notas de dólar, sem qualquer valor
fiduciário.
Perante isto tudo, vou deixar de abordar por agora, a nossa
crise, para responder a um amigo que tem ideias algo confusas (no mínimo!!!)
sobre a militância comunista e a sua mais do que nunca imperiosa necessidade ,nos
tempos que correm, prolongando a frívola
discussão, sobre o caso da entrevista de Adriano Moreira, começada com um texto
intitulado 25 DE ABRIL SEMPRE e o subtítulo de LUCIDEZ E SANGUE FRIO… PRECISA-SE que
escrevemos em 09/O9/2012
Para ler esses textos que refiro, podem CLICAR AQUI.
Agora é tempo de transcrever a nova mensagem recebida e depois a
minha respectiva resposta.
DE LUIS ALVES FRAGA
8
de Setembro de 2012 9:43
Caro Amigo,
Agradeço o seu contacto e os termos em que é feito.
Naturalmente que o diálogo é sempre possível e desejável entre pessoas
inteligentes e não sectárias.
Julgo que é sensivelmente visível a minha formação marxista,
embora a procure matizar com alguma independência. Sendo militar na situação de
reforma só lhe posso dizer que, em determinada altura da minha vida, estive
muito próximo do PCP do qual discordava em função de razões estruturais fundamentais
e, então, insanáveis: o meu sentido de liberdade não é compaginável com
determinado tipo de disciplina que obriga a discordância limitadas e a surdez e
mudez em outras.
Feita esta introdução que o ajudará a classificar-me (nada
tenho de meu para além da minha boa biblioteca e do andar onde habito...
Continuo a vender a minha força de trabalho... intelectual a um patronato cruel
e arrogante). Tenho por hábito repetir a frase que ouvi ao Pe. Felicidade Alves
há muitos anos: se o comboio dos comunistas vai para o Porto eu vou nele, mas
apeio-me em Aveiro.
Como professor universitário e historiador bato-me, até ao
limite, contra o branqueamento da História, de toda a História. Não nego as
ligações de Adriano Moreira à terrível máquina do fascismo - para ser justo no
meu julgamento tenho de me incluir, ainda que ideologicamente em oposição,
nessa mesma máquina, porque contribui para a guerra colonial e, por
conseguinte, colaborei com o sistema de então, conspirando na altura em que os
meus camaradas menos esclarecidos começaram a conspirar - mas reconheço nele
mais o intelectual que busca equidistâncias e o democrata-cristão que, há sua
maneira, luta por uma certa justiça social do que o fascista que colaborou com
Salazar - como digo, eu e todos os oficiais do MFA, também colaborei... Não fui
ministro, mas fui instrumento numa guerra que repudiei depois de ter concluído
a minha 1.ª comissão de serviço em Moçambique, em 1969... Não desertei, porque
o meu Pai, cuja memória muito respeito, militar como eu, me disse que a
deserção é um acto de cobardia... Quando se tem de lutar, luta-se no posto que
ocupamos... tese, aliás, defendida pelo PCP nos tempos da mesma guerra.
Se invoquei o Miguel Urbano Rodrigues foi por dois motivos:
1.º porque o admiro muito e nutro por ele uma especial amizade e, até, carinho
- é tio da minha mulher, filha do Urbano... enfim! - recebendo sempre em
primeira mão, antes da publicação no diario.info, os seus artigos que comento
com muito agrado e respeito; 2.º porque sei por ele a admiração intelectual que
nutre pelo Adriano Moreira, com plena consciência de quem ele foi e é. Do que
sobeja ao Miguel sei eu muito bem, como deve calcular... Há 32 anos que nos
estimamos mutuamente.
Julgo que fui esclarecedor e que, depois disto, se reler a
minha postagem, nela não encontrará mácula ligada ao branqueamento da pessoa do
Adriano Moreira, mas sim e somente a marca da admiração intelectual por um
homem que se mantém coerente e verticalmente de direita sem renegar passados e
consciente de ter colaborado com uma ditadura.
Aceite os meus cumprimentos afectuosos
Luís Alves de Fraga
A MINHA RESPOSTA
Caro amigo Luis Alves Fraga
Agradeço a delicadeza da sua resposta, como tentativa de justificar
a sua posição.
Peço que me perdoe, se
os termos em que me pronuncio não lhe parecerem equânimes, mas perante o texto
que me enviou, não posso deixar de classificar os seus argumentos de inquinados
de subterfúgios intelectuais e burgueses, para não dizer de origem classista e
preconceituosos
É o que se pode deduzir desde logo, pela sua afirmação:
“Feita
esta introdução que o ajudará a classificar-me”.
Deixe que o esclareça, jamais me atreveria a classificar,
fosse quem fosse, pelo que diz (como é o seu caso, visto que é aí que assenta a
nossa divergência), mas pelo que cada um faz e aí, em relação a si, nada a
apontar segundo me parece.
Jamais me atreveria a dizer como o senhor:
“Não nego as ligações de Adriano Moreira à terrível máquina do fascismo”
e excepcioná-lo das consequências
funestas que esse regime teve para Portugal e para o seu povo, responsável pela
insânia e desumanidades repressivas da PIDE e a sua precedente PVDE levaram a cabo e pela miséria cultural, dependência
económica e total passividade reivindicativa, a que sujeitaram o povo.
A questão da divergência entre as nossas opiniões sobre
Adriano Moreira fica quanto a mim arrumada, se o meu amigo tomar como meus, os
argumentos sobre o esquecimento e o revisionismo, aduzidos pelo escritor Mário
de Carvalho, publicado originalmente não sei onde, mas muito reproduzido no
Facebook e no Twiter e que facilmente encontrará no Google, sob o título “DENEGAÇÃOPOR ANÁFORA MERENCÓRIA”.
Tal como na altura o remeti para o texto que escrevi sobre JOSÉHERMANO SARAIVA, por evocar outro fascista, que morreu branqueado por este regime,
que teve como padrinho o tunante MÁRIO SOARES, aproveito hoje, não em palavras
e factos descritos por mim, mas socorrendo-me do texto exemplar desse autor,
considerado um dos mais importantes ficcionistas portugueses da actualidade,
que talvez por não ter um pai militar, se viu obrigado a exila-se antes de
1974.
Vá la…vá lá, porque melhor do que eu poderia dizer, estão nesse
texto todas as razões, da sua falta de razão.
No entanto o que me passou a interessar na nossa troca
de opiniões, foi o facto de a páginas tantas o senhor dizer:
” Julgo que é sensivelmente visível a minha formação marxista, embora a
procure matizar com alguma independência.”
Ora aqui é que está o busílis!
De uma forma geral, todos os intelectuais de pretensa “visível
formação Marxistas” como o senhor se auto intitula, e se querem “independentes”,
são uma ameaça para a coesão na acção, dos verdadeiros marxistas.
Fica claro quando diz, referindo-se à metáfora do Padre
Felicidade Alves, que pelos lidos, lhe serviu de mentor quando diz:
“Há muitos anos: se o comboio dos comunistas vai para o Porto eu vou
nele, mas apeio-me em Aveiro.
Ora aí é que está o problema de alguns “intelectuais
marxistas”.
Apeiam-se sempre antes de tempo, porque o conceito ético da alienação marxista, presta-se a todas as
interpretações.
Curioso,
que a sua variante no conceito “fetichista”
de Marx, não é pelos vistos a idolatria perversa de certos objectos como por exemplo os automóveis, acessórios de
marca, jóias, etc, mas pelo que me
diz, talvez possamos considerar (sem ofensa) o orgulho que demonstra pela sua biblioteca.
Pode ser uma alusão ideologicamente pouco rigorosa, mas
sinto-me livre de a fazer, porque essa é também uma das minhas fraquezas.
Sabe meu caro senhor, jamais me passará pela cabeça perder
tempo a discutir as teorias marxistas, que adoptei como “Biblia”, para
fundamentar as minhas decisões, acções ou comportamento.
Sobreponho sempre à minha opinião, a decisão do colectivo a
que pertenço, mesmo que isso me custe os “olhos da cara” e me possa parecer que
está errada, com a certeza que se assim for, na devida altura o colectivo
corrigirá o erro e em devido tempo a sua postura.
De uma coisa tenho a certeza: se os meus argumentos não
foram suficientes, para influenciar a opinião dos meus camaradas, é que lhe
falta qualquer coisa que me transcende, e normalmente dou de “mão beijada” a
razão ao colectivo, razão porque nunca me apearia em Aveiro e “santa paciência”,
o Porto seria sempre…mas sempre o meu destino final!!!
Deve ser
esta a nossa principal diferença!
Vou-lhe contar um caso exemplar.
Tinha um primo, advogado e jornalista no antigo jornal “A Capital”, que um dia veio ter comigo, a
pedir para conseguir uma reunião com o responsável do Partido pela comunicação social, com o
argumento de que o colectivo do Partido
no jornal, não estava a actuar bem, num
determinado problema.
Consegui essa reunião, porque considerava esse meu primo uma
pessoa excepcional, lúcida e honesta.
Nessa ocasião, o responsável pela comunicação social, a
primeira coisa que fez como é regra no PCP, foi reunir com a célula do Partido
nesse jornal, a informar-se do que se passava naquele caso específico e saber
qual a posição do Partido, que a célula tinha aprovado.
Fui informado em conclusão, que o meu primo não tinha razão porque desconhecia todos os dados do problema.
De facto, passado pouco tempo o director do jornal Rodolfo Iriarte
Peixoto, demitiu-se, em consequência do desenvolvimento desse litígio.
Meu caro senhor, já deve ter percebido, que não recuso, mas não
gosto de discutir teorias, neste caso Marxista
quando em causa está a acção prática para
fundamentar as decisões.
Só o faço excepcionalmente, para me situar ideologicamente, como
foi agora o caso, ou então quando me são colocados duvidosos argumentos na luta
ideológica.
Deixo sempre os
aspectos teóricos, a quem esse estudo possa aprofundar, onde o PCP tem sumidades
de valor inquestionável e em cujo grupo desejaria poder inclui-lo.
Para mim as coisas práticas da vida e a luta no terreno, são
prioritárias, dadas as condições ignominiosas em que se tem feito a governação
deste país.
Defendo a tese de que todo o erro é passivo de emenda,
várias cabeças pensam melhor do que uma só e o óptimo é inimigo do bom, coisa
que na sua essência representa nas suas consequências práticas, a tese leninista “Um passo em frente, dois à retaguarda”, se for caso disso.
De uma forma geral os que se apeiam em Aveiro, são os que
sabem tudo e não abdicam da presunção de estarem errados, (não digo que seja o seu caso),preferindo seguir o
seu caminho, por vezes em paralelo, mas sem a companhia do proletariado, que
por vezes lhes faz um “eczema” danado.
É uma questão de opção de classe!!!
A prevalência que eu faço do Marxismo, é que ele serve de
inspiração e fio condutor, às decisões dos colectivos, que têm a responsabilidade de defender
as classes trabalhadoras, contra a exploração.
Aí nasce o meu orgulho e a minha total adesão sem
preconceitos e de “alma e coração” ao meu Partido o Partido Comunista Português.
Reconheço por exemplo, que Álvaro Cunhal foi uma
inteligência superior colocada ao serviço do povo e do Partido, mas se tivesse
comungado da sua proximidade, ou trabalhado com ele, teria verificado que todo
ele era ouvidos e despojamento, para a
opinião dos outros.
Nunca tomava uma decisão, sem consultar os colectivos
respectivos, respeitando religiosamente e com imensa humildade, como é do
conhecimento geral, essas decisões.
É essa linha, que respeitada religiosamente pelos que se
seguiram na direcção do Partido, fez do meu Partido Comunista Português,
independentemente do isolamento a que os sucessivos governos e a comunicação
social, o tem condenado, uma referência internacional, exemplo para muitos
outros partidos comunistas e em resultado do qual se consegue hoje uma
mobilização de massas para construir e desfrutar uma Festa do Avante, que não
tem comparação em todo o mundo, como tive ocasião de ouvir da boca de alguns
responsáveis de Partidos irmãos, que se deslocaram à nossa “FESTA DO AVANTE”.
A liderança, num processo sem anterior experiência
histórica, (tirando o fogacho da Comuna, na Revolução Francesa) que é o
socialismo real e concreto a caminho do comunismo, tem de assentar na segurança
de cada passo que dá. Só quem malha o ferro, é que sabe manobrar a forja.
O erro dos dirigentes da União Soviética, independentemente
das inúmeras razões subjacentes aos poderosos inimigos que teve de enfrentar, desde
os Nazis, aos imperialistas norte-americanos e seus lacaios, foi exactamente ter-se
divorciado do povo.
A esperança que me resta, para tornar verdadeiras as hipócritas
palavras do nosso, incompetente e perigoso primeiro-ministro, é que o Partido
Comunista Português, mantenha o seu comportamento ideologicamente correcto,
pois a voz popular sempre sábia, tem um ditado que diz:
Água mole em pedra dura tanto bate, até que fura!
A VITÓRIA É DIFÍCIL...MAS É NOSSA!!!
1 comentário:
nitulCaro Senhor,
O meu comentário limita-se a uma única afirmação: considero de grande indelicadeza tornar pública, sem minha prévia autorização, correspondência que foi trocada em privado e que, como tal a julguei. Fui, de facto, ingénuo!
Não lhe assistia um direito que usou indevida e abusivamente.
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