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terça-feira, 11 de setembro de 2012

ALGUMAS COISAS DA MINHA LAVRA


Quando estamos perante o descalabro da nossa economia, com a tragédia a bater-nos à porta, depois da selvática comunicação do Primeiro-ministro, seguida de um lamuriento e hipócrita paternal lamento, sobre as sua “comuns” preocupações com o futuro dos seus filhos, não faz sentido aparentemente, não o desancar.
A crueldade que vai provocar a sua acção, com o consequente aumento da pobreza que já ronda limites insuportáveis.
O aumento do número de mortes por falta de assistência médica ou incapacidade de comprar os medicamentos necessários.
O desemprego, agora reforçado à bruta com mais 40.0000 professores que se vêem impossibilitados de prover às suas necessidades básicas, porque estão sem trabalho.
Os 50% de jovens licenciados, que para trabalhar tem de ir para o estrangeiro.
O drama dos reformados, que já limitados na sua capacidade de sobrevivência, vêem a morte a aproximar-se sem poderem defender-se do conto do vigário que foi descontarem uma vida inteira de trabalho, para assegurar a sua velhice e agora vêem essa expectativa gorada.
 A necessidade de encher o buraco criado pelos bancos quando especularam com papéis que não passavam disso mesmo, pagando por eles somas exorbitantes que se veio a traduzir numa burla dos capitalistas americanos “baptizada” de “Subprime”.
Quando a Europa que vai ter de pagar 4 triliões de euros aos Estados Unidos, triliões de euros esses, retirados do sangue suor e lágrimas dos trabalhadores europeus,  para pagar o papel ( a que chamam dólares!!!) que são necessário para pagamentos internacionais e que para os norte americanos basta mandar a Reserva Federal  imprimir em notas de dólar,  sem qualquer valor fiduciário.
Perante isto tudo, vou deixar de abordar por agora, a nossa crise, para responder a um amigo que tem ideias algo confusas (no mínimo!!!) sobre a militância comunista e a sua mais do que nunca imperiosa necessidade ,nos tempos que correm, prolongando  a frívola discussão, sobre o caso da entrevista de Adriano Moreira, começada com um texto intitulado 25 DE ABRIL SEMPRE e o subtítulo  de LUCIDEZ E SANGUE FRIO… PRECISA-SE que escrevemos em 09/O9/2012
Para ler esses textos que refiro, podem CLICAR AQUI.
Agora é tempo de transcrever a nova mensagem recebida e depois a minha respectiva resposta.


DE LUIS ALVES FRAGA           

8 de Setembro de 2012 9:43

Caro Amigo,
Agradeço o seu contacto e os termos em que é feito. Naturalmente que o diálogo é sempre possível e desejável entre pessoas inteligentes e não sectárias.
Julgo que é sensivelmente visível a minha formação marxista, embora a procure matizar com alguma independência. Sendo militar na situação de reforma só lhe posso dizer que, em determinada altura da minha vida, estive muito próximo do PCP do qual discordava em função de razões estruturais fundamentais e, então, insanáveis: o meu sentido de liberdade não é compaginável com determinado tipo de disciplina que obriga a discordância limitadas e a surdez e mudez em outras.
Feita esta introdução que o ajudará a classificar-me (nada tenho de meu para além da minha boa biblioteca e do andar onde habito... Continuo a vender a minha força de trabalho... intelectual a um patronato cruel e arrogante). Tenho por hábito repetir a frase que ouvi ao Pe. Felicidade Alves há muitos anos: se o comboio dos comunistas vai para o Porto eu vou nele, mas apeio-me em Aveiro.
Como professor universitário e historiador bato-me, até ao limite, contra o branqueamento da História, de toda a História. Não nego as ligações de Adriano Moreira à terrível máquina do fascismo - para ser justo no meu julgamento tenho de me incluir, ainda que ideologicamente em oposição, nessa mesma máquina, porque contribui para a guerra colonial e, por conseguinte, colaborei com o sistema de então, conspirando na altura em que os meus camaradas menos esclarecidos começaram a conspirar - mas reconheço nele mais o intelectual que busca equidistâncias e o democrata-cristão que, há sua maneira, luta por uma certa justiça social do que o fascista que colaborou com Salazar - como digo, eu e todos os oficiais do MFA, também colaborei... Não fui ministro, mas fui instrumento numa guerra que repudiei depois de ter concluído a minha 1.ª comissão de serviço em Moçambique, em 1969... Não desertei, porque o meu Pai, cuja memória muito respeito, militar como eu, me disse que a deserção é um acto de cobardia... Quando se tem de lutar, luta-se no posto que ocupamos... tese, aliás, defendida pelo PCP nos tempos da mesma guerra.
Se invoquei o Miguel Urbano Rodrigues foi por dois motivos: 1.º porque o admiro muito e nutro por ele uma especial amizade e, até, carinho - é tio da minha mulher, filha do Urbano... enfim! - recebendo sempre em primeira mão, antes da publicação no diario.info, os seus artigos que comento com muito agrado e respeito; 2.º porque sei por ele a admiração intelectual que nutre pelo Adriano Moreira, com plena consciência de quem ele foi e é. Do que sobeja ao Miguel sei eu muito bem, como deve calcular... Há 32 anos que nos estimamos mutuamente.
Julgo que fui esclarecedor e que, depois disto, se reler a minha postagem, nela não encontrará mácula ligada ao branqueamento da pessoa do Adriano Moreira, mas sim e somente a marca da admiração intelectual por um homem que se mantém coerente e verticalmente de direita sem renegar passados e consciente de ter colaborado com uma ditadura.
Aceite os meus cumprimentos afectuosos

Luís Alves de Fraga

A MINHA RESPOSTA


Caro amigo Luis Alves Fraga
Agradeço a delicadeza da sua resposta, como tentativa de justificar a sua posição.
 Peço que me perdoe, se os termos em que me pronuncio não lhe parecerem equânimes, mas perante o texto que me enviou, não posso deixar de classificar os seus argumentos de inquinados de subterfúgios intelectuais e burgueses, para não dizer de origem classista e preconceituosos
É o que se pode deduzir desde logo, pela sua afirmação:  
“Feita esta introdução que o ajudará a classificar-me”.
Deixe que o esclareça, jamais me atreveria a classificar, fosse quem fosse, pelo que diz (como é o seu caso, visto que é aí que assenta a nossa divergência), mas pelo que cada um faz e aí, em relação a si, nada a apontar  segundo me parece.
Jamais me atreveria a dizer como o senhor:  
“Não nego as ligações de Adriano Moreira à terrível máquina do fascismo”
e excepcioná-lo das  consequências funestas que esse regime teve para Portugal e para o seu povo, responsável pela insânia e desumanidades  repressivas da PIDE e a sua precedente PVDE   levaram a cabo e pela miséria cultural, dependência económica e total passividade reivindicativa,  a que sujeitaram o povo.
A questão da divergência entre as nossas opiniões sobre Adriano Moreira fica quanto a mim arrumada, se o meu amigo tomar como meus, os argumentos sobre o esquecimento e o revisionismo, aduzidos pelo escritor Mário de Carvalho, publicado originalmente não sei onde, mas muito reproduzido no Facebook e no Twiter e que facilmente encontrará no Google, sob o título “DENEGAÇÃOPOR ANÁFORA MERENCÓRIA”.
Tal como na altura o remeti para o texto que escrevi sobre JOSÉHERMANO SARAIVA, por evocar outro fascista, que morreu branqueado por este regime, que teve como padrinho o tunante MÁRIO SOARES, aproveito hoje, não em palavras e factos descritos por mim, mas socorrendo-me do texto exemplar desse autor, considerado um dos mais importantes ficcionistas portugueses da actualidade, que talvez por não ter um pai militar, se viu obrigado a exila-se antes de 1974.
Vá la…vá lá, porque melhor do que eu poderia dizer, estão nesse texto todas as razões, da sua falta de razão.
No entanto o que me passou a interessar na nossa troca de opiniões, foi o facto de a páginas tantas o senhor dizer:
” Julgo que é sensivelmente visível a minha formação marxista, embora a procure matizar com alguma independência.”
Ora aqui é que está o busílis!
De uma forma geral, todos os intelectuais de pretensa “visível formação Marxistas” como o senhor se auto intitula, e se querem “independentes”, são uma ameaça para a coesão na acção, dos verdadeiros marxistas.
Fica claro quando diz, referindo-se à metáfora do Padre Felicidade Alves, que pelos lidos, lhe serviu de mentor quando diz:
“Há muitos anos: se o comboio dos comunistas vai para o Porto eu vou nele, mas apeio-me em Aveiro.
Ora aí é que está o problema de alguns “intelectuais marxistas”.
Apeiam-se sempre antes de tempo, porque o conceito ético da alienação marxista, presta-se a todas as interpretações.
Curioso, que a sua variante no conceito “fetichista” de Marx, não é pelos vistos a  idolatria perversa de certos objectos  como por exemplo os automóveis, acessórios de marca,  jóias, etc, mas pelo que me diz, talvez possamos considerar (sem ofensa)  o orgulho que demonstra pela sua biblioteca.
Pode ser uma alusão ideologicamente pouco rigorosa, mas sinto-me livre de a fazer, porque essa é também uma das minhas fraquezas.
Sabe meu caro senhor, jamais me passará pela cabeça perder tempo a discutir as teorias marxistas, que adoptei como “Biblia”, para fundamentar as minhas decisões, acções ou comportamento.
Sobreponho sempre à minha opinião, a decisão do colectivo a que pertenço, mesmo que isso me custe os “olhos da cara” e me possa parecer que está errada, com a certeza que se assim for, na devida altura o colectivo corrigirá o erro e em devido tempo a sua postura.
De uma coisa tenho a certeza: se os meus argumentos não foram suficientes, para influenciar a opinião dos meus camaradas, é que lhe falta qualquer coisa que me transcende, e normalmente dou de “mão beijada” a razão ao colectivo, razão porque nunca me apearia em Aveiro e “santa paciência”, o Porto seria sempre…mas sempre o meu destino final!!!
Deve ser esta a nossa principal diferença!
Vou-lhe contar um caso exemplar.
Tinha um primo, advogado e jornalista no antigo jornal  “A Capital”, que um dia veio ter comigo, a pedir para conseguir uma reunião com o responsável  do Partido pela comunicação social, com o argumento de que  o colectivo do Partido no jornal, não estava a actuar bem,  num determinado problema.
Consegui essa reunião, porque considerava esse meu primo uma pessoa excepcional, lúcida e honesta.
Nessa ocasião, o responsável pela comunicação social, a primeira coisa que fez como é regra no PCP, foi reunir com a célula do Partido nesse jornal, a informar-se do que se passava naquele caso específico e saber qual a posição do Partido, que a célula tinha aprovado.
Fui informado em conclusão, que o meu primo não tinha razão  porque desconhecia todos os dados do problema.
De facto, passado pouco tempo o director do jornal Rodolfo Iriarte Peixoto, demitiu-se, em consequência do desenvolvimento desse litígio.
Meu caro senhor, já deve ter percebido, que não recuso, mas não gosto de discutir teorias, neste caso  Marxista quando em causa está a acção prática  para fundamentar as decisões.  
Só o faço excepcionalmente, para me situar ideologicamente, como foi agora o caso, ou então quando me são colocados duvidosos argumentos na luta ideológica.
 Deixo sempre os aspectos teóricos, a quem esse estudo possa aprofundar, onde o PCP tem sumidades de valor inquestionável e em cujo grupo desejaria poder inclui-lo.
Para mim as coisas práticas da vida e a luta no terreno, são prioritárias, dadas as condições ignominiosas em que se tem feito a governação deste país.
Defendo a tese de que todo o erro é passivo de emenda, várias cabeças pensam melhor do que uma só e o óptimo é inimigo do bom, coisa que na sua essência representa nas suas consequências práticas,  a tese leninista “Um passo em frente, dois à retaguarda”, se for caso disso.
De uma forma geral os que se apeiam em Aveiro, são os que sabem tudo e não abdicam da presunção de estarem errados, (não digo que seja o seu caso),preferindo seguir o seu caminho, por vezes em paralelo, mas sem a companhia do proletariado, que por vezes lhes faz um “eczema” danado.
É uma questão de opção de classe!!!
A prevalência que eu faço do Marxismo, é que ele serve de inspiração e fio condutor, às decisões dos colectivos, que têm a responsabilidade de defender as classes trabalhadoras, contra a exploração.
Aí nasce o meu orgulho e a minha total adesão sem preconceitos e de “alma e coração” ao meu Partido o Partido Comunista Português.
Reconheço por exemplo, que Álvaro Cunhal foi uma inteligência superior colocada ao serviço do povo e do Partido, mas se tivesse comungado da sua proximidade, ou trabalhado com ele, teria verificado que todo ele era ouvidos e despojamento,  para a opinião dos outros.
Nunca tomava uma decisão, sem consultar os colectivos respectivos, respeitando religiosamente e com imensa humildade, como é do conhecimento geral, essas decisões.
É essa linha, que respeitada religiosamente pelos que se seguiram na direcção do Partido, fez do meu Partido Comunista Português, independentemente do isolamento a que os sucessivos governos e a comunicação social, o tem condenado, uma referência internacional, exemplo para muitos outros partidos comunistas e em resultado do qual se consegue hoje uma mobilização de massas para construir e desfrutar uma Festa do Avante, que não tem comparação em todo o mundo, como tive ocasião de ouvir da boca de alguns responsáveis de Partidos irmãos, que se deslocaram à nossa “FESTA DO AVANTE”.
A liderança, num processo sem anterior experiência histórica, (tirando o fogacho da Comuna, na Revolução Francesa) que é o socialismo real e concreto a caminho do comunismo, tem de assentar na segurança de cada passo que dá. Só quem malha o ferro, é que sabe manobrar a forja.
O erro dos dirigentes da União Soviética, independentemente das inúmeras razões subjacentes aos poderosos inimigos que teve de enfrentar, desde os Nazis, aos imperialistas norte-americanos e seus lacaios, foi exactamente ter-se divorciado do povo. 
A esperança que me resta, para tornar verdadeiras as hipócritas palavras do nosso, incompetente e perigoso primeiro-ministro, é que o Partido Comunista Português, mantenha o seu comportamento ideologicamente correcto, pois a voz popular sempre sábia, tem um ditado que diz:
Água mole em pedra dura tanto bate, até que fura!

A VITÓRIA É DIFÍCIL...MAS É NOSSA!!!
 

 

1 comentário:

Luís Alves de Fraga disse...

nitulCaro Senhor,

O meu comentário limita-se a uma única afirmação: considero de grande indelicadeza tornar pública, sem minha prévia autorização, correspondência que foi trocada em privado e que, como tal a julguei. Fui, de facto, ingénuo!
Não lhe assistia um direito que usou indevida e abusivamente.