Olhar à esquerda

A MANIPULAÇÃO
NA COMUNICAÇÃO SOCIAL

UM PROBLEMA DOS PORTUGUESES

Acabo de assistir ao noticiário das 20h00, da RTP 1, que abriu com os resultados de uma sondagem, dando um largo avanço do PSD sobre o PS.
É uma indignidade e demonstrativo do desprezo que lhes merece a inteligência do povo português.
O comportamento da comunicação social e particularmente da RTP na manipulação do noticiário, no sentido de favorecer o PSD e CDS é escandaloso.
Como vai sendo habitual, diariamente são conhecidos resultados das mais variadas sondagens.
Pelos vistos hoje saiu mais uma e no desenho que os técnicos destas coisas fizeram para levar o povo a votar como eles entendem, consideraram esta sondagem particularmente valiosa , por ser feita em urna, e dar a vitória (calculem a surpresa???) ao PSD, por significativa diferença.
A exagerada importância que o locutor dava a esta sondagem, mais fazia parecer que já era o resultado da votação dos portugueses, que como todos sabemos, só terá lugar no próximo domingo, dia 6 de Junho.
A agressividade da reportagem, a insistência do repórter numa entrevista a José Sócrates para que este comentasse os resultados dessa sondagem, foi tão incisiva, que parecia só desistir quando Sócrates admitisse a derrota, perante o avanço que ela dava ao PSD.
Isto não é mais que ordinária manipulação do auditório.
A notícia que se seguiu, uma entrevista ao líder do PSD, teve um aspecto não só igualmente manipulador, mas até caricato, para quem tenha destas manobras, o distanciamento necessário.
Interrogado sobre o resultado dessa mesma sondagem, Passos Coelho com a maior lata do mundo, achou importante lembrar que “nunca” comenta qualquer sondagem, mas……esta significa que…bla…bla…bla.”Nós sempre dissemos que íamos vencer e queríamos maioria absoluta”, bla…bla….bla.
Seguiu-se o dinossáurico Francisco Balsemão, que pela enésima vez ouvi dizer que….bla…bla,,,bla…. Sócrates “já era”.
A este “neutral” depoimento, seguiu-se uma reportagem da visita de Sócrates a Torres Vedras, onde deram mais tempo aos protestos dos que esperavam a caravana do PS, que á intervenção do candidato socialista.
Terminou a reportagem com um interrogatório a Sócrates, verdadeiramente caricato. Tanto insistiram com ele para reconhecer que já tinha perdido, que ele se viu obrigado a por quatro ou cinco vezes repetir que também tinha as suas sondagens e de sinal contrário.
Mudando de assunto, a televisão tocou ligeiramente na novela diária do caso da brutal agressão a que uma jovem foi sujeita e para não sair do genero apresentou um novo caso de um fuzileiro brutalizado pelos seus camaradas, com imagens de vídeo, como se impunha.
Foi sol de pouca dura, para poder voltar novamente á tal sondagem, com uma entrevista a João Marcelino, director do actualmente “isentíssimo” Diário de Notícias, que deveria abordar vários assuntos, mas começou logo por dizer ao entrevistador que: “ para dar substância ao programa, ia fazer uma análise á importantíssima sondagem com voto nas urnas, que hoje tinha sido feita e que era um ponto de viragem em que fica claramente expresso que o PSD vai ganhar as eleições,…Sócrates vai insistir na cassete do “PEC 4” que já ninguém pode ouvir bla..bla…bla…bla…bla.”.
Aqui eu desisti e mudei de canal. Quando passado bastante tempo voltei a passar pela RTP 1, estava Fátima Campos Ferreira a entrevistar Passos Coelho.
Aí desisti definitivamente!!!
Atenção, sou militante do Partido Comunista Português e todos sabem as razões de queixa que temos, não só do ex-primeiro ministro José Sócrates, como do próprio PS.
Isso não influencia a questão de fundo, que se prende com a isenção que um órgão de comunicação social, pago por todos nós, tem que exibir, seja qual for a cor partidária que está em causa.
O que nos revolta, o que nos faz sentir diminuídos e humilhados, é ver a manipulação descarada a que se está a sujeitar o povo português.
Se a RTP fosse privada, não faria este comentário, porque embora tendencioso, era um direito que lhe assistia, que o Sistema Capitalista fomenta, porque é a única maneira de se manter no poder.
Falar verdade, só numa verdadeira democracia e o que temos, nem sequer um sucedâneo, é um verdadeiro simulacro.
Daí, a razão fundamental porque não aceitarmos a privatização da RTP, única via que resta, para se poder contestar "a voz do dono", embora em dose residual.
O que se está a passar, é uma Berlusconiana maneira de influenciar o eleitorado, tão suja como a moral desses políticos que se servem do ser humano, como se de escravos se tratassem, sem dignidade, inteligência, honra ou sentido crítico.