RESPOSTA À CARTA ABERTA
ENVIADA A RICARDO COSTA DIRECTOR DO “EXPRESSO”
NÃO É UM DIÁLOGO DE SURDOS, MAS DUAS VISÕES DO MUNDO “QUASE” OPOSTAS
ESTE “QUASE” TEM MUITO QUE SE LHE DIGA!!!!
Ricardo Costa teve a gentileza de responder, e por “gentileza” da minha parte, transcrevo a contra-resposta que lhe enviei.
Como julgo que da parte dele a “coisa” fica por aqui, não me alongo nos argumentos e não faço mais comentários sobre o assunto.
Certamente que voltarei a falar de Cuba, muitas vezes, se tiver vida e saúde, porque Cuba não só está no meu coração, mas também porque é um caso paradigmático da monstruosa máquina capitalista, em todo o seu esplendor.
A RESPOSTA DE RICARDO COSTA
Bom dia
Obrigado pelo seu e-mail.
Não tenho nenhum anti-comunismo, primário ou não, por várias razões. Aponto apenas a mais simples: o meu Pai foi militante do PCP desde os 20 anos até morrer em 2006, com 76 anos. Conheço, por isso e por razões que se prendem com o meu trabalho, razoavelmente o PCP, Conheço menos bem a história de Cuba, apesar de lá ter estado três vezes, duas em trabalho e uma de férias.
Não coloco Fidel ao nível de Ratko Mladic ou de Papadoc, apenas usei o exemplo para explicar que todo o tipo de líderes, democratas, ditadores, revolucionários ou facínoras, acabam por esperar um "justo" julgamento da história.
Sou frontalmente contra o bloqueio cubano mas acho que a história não julgará com nenhuma bonomia Fidel Castro. Os anos mais recentes do regime cubano são exemplares nessa matéria e a questão não é apenas económica. Do ponto de vista dos direitos humanos ou da liberdade de imprensa, o país pouco ou nada evoluiu.
Obrigado
Ricardo Costa
P.S. - quanto ao Rúben de Carvalho, se reparar eu terminei com a colaboração residente de todos os cronistas partidários. Eram quatro, que rodavam entre si. Ou seja, uma das minhas "primeiras medidas" foi afastar o António José Seguro, o António Pinto Leite, o António Pires de Lima... e o Rúben de Carvalho. Aliás, mudaram mais quatro ou cinco cronistas nessa data.
A MINHA CONTRA-RESPOSTA
Boa tarde
Agradeço a gentileza da sua resposta, o que só confirma o bom conceito que faço de si, independentemente das distâncias ideológicas que nos separam.
Tenho 80 anos e portanto devo ter vivido exactamente o mesmo que seu pai, o que á partida o coloca na mesma posição que os meus filhos, homens justos, honestos, intelectualmente muito válidos....mas não militantes.
Compreendo-os, aceito, discuto os nossos pontos de vista, mas tenho de compreender que haverá coisas que me transcendem, próprias da natureza humana, mas que a dialéctica se encarregará de resolver.
Eu penso com toda a força das minhas capacidades e conceitos, que estou cheio de razão, mas tenho de admitir, porque eles são extraordinariamente inteligentes e honestos, que o que nos separa a pesar do grande amor que nos une, é inultrapassável.
São factores da vida que dão razão a quem não tem a minha razão.
Os homens são todos diferentes e a nossa origem ainda é tão recente que os instintos sociais ainda enfrentam a sobrevivência, com o egoísmo a minar confiança.
Quanto às nossas divergências em relação a Cuba, aceitando os seus conhecimentos da matéria, a sua integridade intelectual, não posso deixar de lhe pôr esta questão.
Se Fidel não tivesse nascido em Cuba, há alguma possibilidade remota daquele povo se orgulhar dos vários índices civilizacionais, de que se podem orgulhar?
Esta alternativa, sem a desumana sabotagem dos Estados Unidos, não seria hoje outra coisa?
O senhor está seguro, que no global, para manter a independência o progresso e a dignidade daquele povo, haveria uma alternativa muito diferente?
Bem perto dali, está um sobrinho meu que chefia a delegação do Banco Mundial, que pela miséria que me testemunha, não me deixa dúvidas que a diferença não seria muita, pelo menos em termos materiais, porque dos valores cívicos, é o nadir em relação ao zénite .
Olhe que não é uma enormidade o que estou a dizer, as condições são diferentes, mas têm o mesmo denominador comum....Estados Unidos da América.
De resto, como o senhor é muito novo, terá ocasião de assistir, senão ao grande trambolhão do dólar, pelo menos ao início do descalabro, quando se começarem a ver o efeito real do problema dos "Munis".
Espere por Outubro!!!
Acredito, do fundo da minha alma, que o mundo precisa desesperadamente de perceber que a sobrevivência da humanidade está no socialismo.
Que tipo de socialismo, é a grande questão!
Com os dados que temos, os avanços científicos, o esgotamento das capacidades naturais, o aumento demográfico, só a inteligência dos homens pode encontrar solução.
A que defendo, é sem dúvida a melhor, a mais generosa, a mais civilizada, com os elementos que dispomos actualmente e por favor, não faça reflexos no espelho da União Soviètica!!!
Mas um mundo que discute o euro, o dólar, a rupia, o yuan, o rublo, quando morre um criança de fome a cada 5 segundos, desculpe que lhe diga mas ou eu ou o senhor, ou ambos....ainda estamos errados.
Mais uma vez grato pela resposta
Juvenal
NOTA POSTERIOR-Por lapso não expliquei, na frase: "Bem perto dali, está um sobrinho meu que chefia a delegação do Banco Mundial, que pela miséria que me testemunha, não me deixa dúvidas que a diferença não seria muita, pelo menos em termos materiais, porque dos valores cívicos, é o nadir em relação ao zenite " , que me referia ao Haiti.
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