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quarta-feira, 6 de julho de 2011

O MUNDO DOS RICOS

ARTIGO DE FILIPE DINIZ
PUBLICADO NO JORNAL “AVANTE”


As firmas Merryl Linch e Capgemini publicam anualmente o World Wealth Report (Relatório sobre a riqueza mundial). De facto, este relatório não é bem sobre a riqueza mundial. É sobre uns quantos que concentram essa riqueza nos seus bolsos.
Dividem-se em duas categorias: os HNWI (high net worth individuals, indivíduos com elevado rendimento líquido individual: igual ou superior a 1 milhão de dólares) e os UHNWI (ultra high net worth individuals, indivíduos com ultra elevado rendimento líquido individual: igual ou superior a 30 milhões de dólares).
Uma das curiosidades destes relatórios reside em perceber para que servem. Uma das conclusões que se tira é a de que as firmas relatoras estudam o comportamento dos HNWI e dos UHNWI porque acreditam que daí depende parte do futuro da economia mundial. Mas o que se verifica é que daí dependem, no fundamental, não a economia mas as dinâmicas da especulação (bolsista, imobiliária, financeira, commodities) e os processos de centralização e concentração do capital. Não só não é na economia real que os HNWI procuram assegurar e multiplicar os seus ganhos como parece ser mais fácil descobrir uma correlação entre o que a economia perdeu e o que estes HNWI ganharam.
O relatório confirma que o capital não tem pátria. Os HNWI tendem a investir noutro lado: os asiáticos na Europa, os latino-americanos na Ásia, os norte-americanos na Ásia e na Europa, os europeus na Ásia e na América Latina.
Os HNWI investem em clubes de futebol; em joalharia, pedras preciosas e relógios; em arte e coleccionáveis de luxo. A venda de iates de luxo, de jactos privados, de automóveis de luxo teve uma lamentável quebra em 2009 mas, diz o relatório, apresenta sinais muito animadores em 2010.
Enquanto o produto interno bruto global reduziu 2% e o desemprego global aumentou 14,4% em 2009 (atingindo 211,5 milhões), as fortunas conjuntas dos HNWI e dos UHNWI aumentaram 9,4%. 53,5% do total de HNWI situa-se nos EUA, Japão e Alemanha. 4,5 milhões de HNWI estão nos EUA e no Japão, duas economias em profunda crise.
Parece que em Portugal houve uma quebra no número de HNWI. As duas troikas não deixarão de vir em seu socorro.

AINDA NO "AVANTE" PODE-SE LER EM
"PONTOS CARDEAIS"

FORTUNAS

O Público puxou para 1.ª página a notícia de que «Portugal perdeu 300 milionários no ano passado», especificando que «milionários são pessoas com uma fortuna líquida igual ou superior a um milhão de dólares (700 mil euros)» e contabilizando 10 700 desses ventutosos milionários «contra» os 11 000 do ano anterior.

Estrategicamente, a notícia faz também saber que «em 2010 a fortuna dos mais ricos do mundo cresceu 9,4%, mas em Portugal a tendência foi contrária», deixando assim a ideia de que a famosa «crise» também «atingiu os mais ricos» no nosso país.

A notícia, contudo, não esclareceu que entre esses 10 700 milionários registados no nosso país há vários deles (o Amorim das cortiças e o Belmiro dos supermercados são apenas dois exemplos) que viram as suas fortunas subir no mesmo ranking, a par de muitos outros que detêm o poder na banca e nos grandes grupos económicos, pelo que aproveitar o facto de o número de milionários ter descido para dar a ideia de que a acumulação da riqueza em privados também desceu, não passa de burla grosseira.

Além disso, os 300 milionários que Portugal «perdeu» o ano passado são apenas metade dos 600 que «conquistara» no ano anterior, o que desdramatiza a «perda» e indica que os milionários cá do burgo andam, afinal, de vento em popa e afinadíssimos com os «crescimentos mundiais» da actualidade...

E PARA FICAR AINDA MAIS ESCLARECIDO ,LEIA DE JORGE MESSIAS, EM "RELIGIÕES"

A NOVA ORDEM OU O FASCISMO UNIVERSAL

«Tem carácter reaccionário a famosa teoria do ultra-imperialismo que estabelece a tese (datada de 1902) de que, em vez da luta dos capitais financeiros entre si, eles deviam instalar em todo o mundo a exploração comum pelo capital financeiro unido internacionalmente... A par de um cristianismo consolidado num grupo limitado de grandes impérios federais, cada um deles com colónias não civilizadas e países dependentes, numa evolução que permitiria alimentar as maiores esperanças na paz permanente garantida pelas bases sólidas do super imperialismo?...»

V. I. Lenine, O Imperialismo, fase superior do capitalismo

«O FMI não se limita a ajudar o imperialismo a sugar o sangue da vida económica dos países em vias de desenvolvimento e a mantê-los amarrados ao carro imperialista. O que, só por si, já não seria pouco … Mas há mais: o FMI é uma peça decisiva na execução de golpes de força para o derrube de regimes democráticos e instauração de governos ditatoriais … Dizia Lenine que o militarismo moderno é resultado do capitalismo. Enquanto força armada usada pelos estados capitalistas; e como instrumento repressivo do movimento proletário.»

(Grupo de trabalho do PCP, 1986, coordenado por Rogério de Carvalho)

Tal como seria de esperar, nunca as grandes centrais do dinheiro confirmaram a tese do governo mundial e da nova ordem capitalista. Mas há outras formas de avaliação. Por exemplo, comparando antecedentes e consequentes: o anúncio antecipado dos factos e a sua concretização na vida real. Antes de prosseguirmos conviria, entretanto, esclarecer que, a par da denúncia de algumas intenções ocultas pelas estratégias do assalto ao poder desencadeado pelo capital fascizante, importa repudiar-se qualquer argumentação de base teológica. Os terríveis perigos que enfrentamos e teremos de enfrentar não são maquiavélicos ou proféticos inspirados por forças sobrenaturais do Mal. Trata-se de situações históricas, criminosas e catastróficas, longamente concebidas pelas forças políticas e sociais dominantes, de entre as quais é justo destacar o Vaticano e a igreja católica de obediência vertical e eclesiástica.

O essencial dos planos elaborados pelos conspiradores da Nova Ordem estão bem guardados a sete-chaves, como é natural, nos cofres-fortes da NATO, do Pentágono ou do Opus Dei. Mas as «fugas», entretanto, não cessam de se acumular. Sabe-se agora, por exemplo, que a ampliação do teatro de operações, em fase de desenvolvimento, exige a concentração prévia das grandes fortunas (o que implicará o esmagamento e a apropriação da riqueza detida pela classe média e por franjas dos investidores); o abandono à sua sorte dos mais pobres, dos velhos, dos inválidos e das crianças menos dotadas; a instalação de um só governo mundial «forte», de direita e dotado de todos os poderes repressivos e bélicos; a consolidação de uma só religião representada por uma única Igreja mundial fabulosamente rica e detentora de poder absoluto sobre uma área social imensa, nos planos da assistência caritativa, da saúde, da educação, do universo prisional, da cultura, da infância, etc. A noção de Império faria desaparecer do mapa os conceitos de Estado e de Nação, transformando as pátrias em simples territórios administrativos. Este secreto projecto já se encontra em desenvolvimento efectivo e é dirigido por um governo mundial oculto cujas decisões são inapeláveis. É o caso do que está a acontecer em Portugal e na Grécia, cujas independências nacionais o Novo Mundo procura entregar ao FMI.

Mas a visão capitalista alcança até ao infinito. Generais, bispos e banqueiros estão certos de que o Império dos Iluminados virá a exigir uma III Guerra Mundial, talvez aí por volta de 2050. Nessa altura, o conflito oporá três gigantescas super potências: os EUA, a China e a Índia, visto que então a Europa já não contará, se é que ainda sobrevive.

Portanto, com base em previsões seguras, os arquitectos do grande capital constroem, desde já, as situações estratégicas favoráveis ao colossal embate previsto para a partilha dos lucros do saque universal: reforçam posições nas áreas petrolíferas, aceleram o fabrico de armas de destruição maciça e controlam a produção alimentar. Gerem as crises financeiras, centralizam a banca e usam o crédito como arma política. Destroem o emprego e dizimam, pela fome, as populações mais pobres.

Este panorama é, já hoje, uma realidade.



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